domingo, 17 de março de 2013

Capítulo 13: “Everything is gonna be alright”,



SÉRGIO

Ela chorava sem parar, mas não era um choro “barulhento”, era um choro silencioso, as lágrimas apenas caíam pela sua cara a baixo e ela não emitia um único som. Estávamos os dois sentados no sofá, eu não falava, tinha medo de dizer algo de errado, ela que a fizesse ficar pior, neste momento acho que só podia mostrar que estava lá para ela, mas sinceramente eu não sabia se estava pronto para lidar com aquilo, não sabia lidar com algo que nem saia o que era!
MARIA

Estava com a cabeça deitada sobre as pernas dele e as lágrimas caiam freneticamente, uma das minhas características quando estava mal era que não conseguia falar, não gostava de falar e se o tentasse fazer, se abrisse a boca para pronunciar alguma palavra ela simplesmente não saia, ficava presa. Não, eu nunca tinha chorado a frente de ninguém, nunca tinha sido pessoas de mostrar assim os meus sentimentos e não ia ser agora que isso ia acontecer! Levantei-me devagar e limpei as lágrimas da cara, ele não tinha que me ver assim nem tinha que lidar com isto tudo, era um problema meu e só meu, problema que eu ia ter que cuidar sozinha sem mias ninguém:
-Desculpa- Disse clareando a minha voz- Bem vamos sair? – Estava desesperada por fazer alguma coisa que mudasse aquele ambiente horrível que ali estava mas algo que dizia que iria ser sem sucesso.
-Nós vamos ter que falar sobre isso mais cedo ou mais tarde sabes disso não sabes? Sabes que podes contar-me o que tens.
-Não, não sei, e não vamos falar de nada! É um assunto meu ninguém tem que se meter!- exclamei
-Então porque que me pediste ajuda?!
Não lhe consegui responder aquilo, eu de facto tinha-lhe pedido ajuda mas agora não queria falar do assunto só queria alguém ao meu lado, só não me queria sentir sozinha.
-Olha pois pedi mas agora não quero portanto se quiseres sair sai não precisas de ficar aqui!
-Eu não estou para isto a sério! Queres sofrer? Então sofre sozinha porque eu não estou para ver ninguém sofrer!- pegou ca carteira que estava em cima da mesa junto a porta e saiu.

SÉRGIO

Peguei na minha carteira e bati com a porta, eu não conseguia ver ninguém sofrer! Não consegui lidar com aquilo, não consegui ser o amigo que ela precisava naquele momento e se existia alguém com que ela se abriria era o Kaká. Eles tinham-se tornado bons amigos e ele era como um irmão para mim por isso se eu lhe pedisse ele iria ajudar-me independentemente do que fosse, ainda para mais sendo amiga dela ia ajudar ainda mais depressa:
-Oi mano, preciso que me ajudes numa cena.
-Chuta- respondeu
Contei-lhe o que tinha acontecido, e que não fazia ideia do porque de ela estar assim, e nem precisei de pedir que ele fosse falar com ela, ele próprio disse que estava a caminho de casa dela. Eu não sabia o que fazer, não sabia como ajudar alguém em sofrimento, nunca soube nem era agora que ia saber, eu simplesmente não sabia lidar com o sofrimento dos outros.


MARIA

Estava com as pernas em cima do sofá e com a cabeça pousada nelas, este começo de dia não estava a ser nada bom. Pedi ajuda pois sabia que precisava dela mas no fim não quis mais uma vez admitir que não estou bem, não quis que ninguém entrasse no meu mundo. Perdida entre pensamentos, despertei com a campainha, mas quem seria que me vinha chatear?
-Ah Ola, és tu- disse vendo o Káka a porta- Entra
-Que animação ao ver-me- disse entrando e fechando a porta. Sentou-se no sofá e bateu nele como quem diz “senta-te aqui”.
-Pois, não estou lá muito bem disposta- disse sentando-me ao lado dele- mas diz lá o que te faz vir aqui?
-Não posso vir visitar uma amiga?
Sorri amargamente e respondi:
-Ambos sabemos que não vinhas cá sem uma razão- se fosse noutro dia eu teria brincado com ele, teria sorrido com ele mas estava sem forças para ser simpática.
-É bom saber isso- disse ele- Mas realmente tens razão, a minha vinda cá tem uma razão.
-Diz lá o que queres então- respondi encostando-me no sofá.
-O que eu quero é saber o que se passa contigo- disse
-E como é que sabes que se passa alguma coisa?- perguntei olhando-o de lado
-Porque sei, e quero-te ajudar mas só o posso fazer se me disseres o que tens
-E quem é que disse que eu quero ajuda?- Perguntei secamente
-Repondes a todas a perguntas com outra pergunta?- perguntou
-Sinto-me original assim - disse ironicamente
-Caraças Clara!- disse levantando-se- Estás a ver como estás a falar? Estou aqui a tentar ajudar-te e tu respondes com sete pedras não mão! Eu estou a tentar ser o mais simpático possível, o mais amigo que consigo ser, mas quando me respondem torto eu também perco a paciência!- As palavas dele fizeram com que a torneira das lágrimas silenciosas ligasse outra vez, era muita coisa o mesmo tempo, foi como um choque eléctrico, uma injecção de adrenalina que me dez reagir, reacção essa que foram lágrimas atrás de lágrimas. Odiava chorar odiava mesmo! Mas eu precisava de falar com alguém e ele neste momento era o mais próximo que eu tinha de uma melhor amigo:
-Eu quero dizer o que se passa, mas não consigo- disse entre lágrimas
- Mas não consegues porque? Tu sabes que podes confiar em mim- respondeu sentando-se outra vez ao meu lado e agora sim mais calmo
-Eu sei que sim, mas não sai, fica aqui preso na garganta
-Respira fundo, e fecha os olhos – disse- Dizes se te sentires preparada
-Eu… eu não aguento o que como- disse por fim. Parecia que tinha tirado um peso de cima de mim, sentia-me mais aliviada por ter partilhado aquilo com alguém, talvez devesse ter sido com o Sérgio que eu devia ter desabafado, mas depois da nossa conversa pouco amigável eu percebi que era demasiado “peso” mas ele lidar, só não percebia porque.
-Não aguentas a comida como assim? Vomitas?- perguntou. Estava sereno, calmo, demasiado calmo o que surpreendeu.
-Sim isso, como como como até me sentir uma baleia e depois vomito com a culpa- respondi limpando as lágrimas teimosas que insistiam em cair.
-E porque que fazes isso?- perguntou
-Porque sim, sei lá! Porque sinto-me gorda, porque sinto necessidade de deitar tudo para fora! – Exclamei. Sentia-me frustrada comigo própria, parecia que não me percebia.
-Calma- disse pondo-me a mão sobre a minha- Tu não és gorda, aliás estás muuuuuuito bem acredita no que te digo – disse dando uma gargalhada- Mas achas isso porque, alguém te disse que eras gorda?
-Quando eu era mais pequena, era gordinha, até aos 16 anos sempre o fui e sempre fui gozada por isso, sempre se riram de mim e mandavam aquelas boquinhas “olha a gorda a passar”, então pronto decidi mudar, mas parece que nunca estou bem parece que aquela miúda de 16 anos gorda me persegue para todo o lado que vá. Uma das razões de ter vindo para aqui estudar, foi para “fugir” a essa rapariga de 16 anos, pensava que se saísse de Portugal ia esquecer-me do passado mas não foi isso que aconteceu. Não é por uma questão de estética que eu faço isto é porque não me sinto bem, só isso.


KÁKA

Não estava a espera que o problema da Clara fosse tão grave como realmente era! Eu não era médico, era futebolista, duas profissões completamente diferentes mas era evidente que ela precisava de ajuda, qualquer pessoas que soubesse do caso dela percebia isso, e eu queria ajudar só não sabia como:
-Tu sabes que isso só te faz mal certo?
-Eu sei- respondeu-me
-Tens que procurar ajuda, ir a um médico ou algo assim, não digo agora neste preciso momento mas mais tarde ou mais cedo tens que o fazer para teu próprio bem.
-Eu sei- repetiu
-E lembra-te que a tua garganta não aguenta o esforço que fazes e mais tarde vai-se ressentir enquanto estiveres a cantar sabes disso não sabes?
Ela não precisou de dizer nada, a cara dela traiu-a e as lágrimas que começaram a cair também. Abracei-a e limpei-lhe as lágrimas da cara, custava-me ver uma amiga assim, era o mais próximo que tinha de uma melhor amiga e ao contrário do que as pessoas pensam rapazes e raparigas também podem ser amigos, também se podem abraçar sem ter outro sentimento envolvido, sim porque esse sentimento da parte dela estava reservado ao Sérgio nem valia a pena ela negar e o meu estava reservado a minha querida esposa e aos meus filhos, mas isso não impedia o facto de eu ter amigas e a minha mulher sabia disso ela própria fazia questão de eu ter amigas, tal como ela tinha amigos, a confiança é a base de qualquer relação e felizmente esse sentimento estava presente no meu casamento.



MARIA

Senti-me melhor depois da conversa com o Káka, senti que já não estava sozinha, mesmo não gostando que entrassem no meu mundo tinha-me feito bem.
-Obrigada Káka- disse finalmente- Obrigada por te preocupares e por seres o mais próximo que tenho de um melhor amigo.
-Não tens que agradecer tona, digo o mesmo! As pessoas entram na nossa vida e torna-se importante não é assim? – Respondeu dando-me um sapatada na cocha- Vá agora eu tenho que ir, porque tenho um jantar de familia preparado pelos meus filhos que não posso mesmo chegar atrasado! Ah e tens que os conheces porque eles já ouviram falar de ti.
-Okok- Sorri- Está combinado, quero conhecer as pestes a ver se saem ao pai.
-São mais lindas que o pai as pestes, são como a mãe.
-Aii que o amor é lindo- disse dando uma gargalhada
-Ei que ela já se ri como deve ser!- exclamou- Vá porta-te bem eu vou dizer ao Sérgio para vir cá para não ficares sozinha.
-Eu acho que é melhor não- respondi automaticamente
-Ele não reagiu assim de propósito, ele apenas não sabe lidar com o sofrimento daqueles que lhe são chegados.
-Então porque? – Perguntei
-Coisas dele Clara, tens que lhe perguntar. Mas vá alguma coisa liga-me ok? – disse dando-me um beijo na testa.
Ok- respondi- Obrigada mais uma vez.
-Não agradeças- Sorriu e saiu.
Fiquei sentada a mudar de canais e parei na MTV, estava a dar um música nova do Justin Bieber, eu não era grande fã dele, muito pelo contrário, nem acompanhava a carreira dee nem algo parecido mas aquela música veio no momento certo. Chamava-se Be Alright (https://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=FsNZdlV64jU), a música dizia que tudo ia ficar bem, para não me preocupar que mais tarde ou mais cedo as coisas iam ficar bem. Sorri para o televisor e pensei “Everything is gonna be alright”, tal como a música dizia. Tomei uma decisão, decidi pôr-me boa, decidi mudar as coisas, mudar o destino por assim dizer e contrariar o meu problema.


Tomei uma banho rápido e vesti-me. Estava preparada para sair de casa quando entra a Diana:
-Onde é que vais? –perguntou surpreendida
-Tratar de mim- disse sorrindo. Olhou para mim e ficou a decifrar-me por uns momentos mas o facto de nos conhecer-mos bem fez com que ela me percebesse rapidamente:
-Ainda bem princesa- disse abraçando-me- alguma coisa liga que eu vou a correr.
-Não te preocupes, antes de ir tratar de mim tenho que ir ter com uma certa pessoa. Beijo
Sai de casa e corri para o carro, ia ajudar-me a mim própria mas tinha esperança em ir ajudar outra pessoa também. Seria um espécie de 2em1.

Como quem é que Clara iria ter ?
E onde é que ela iria?
E Sérgio ? Qual será o motivo/o fantasma que o atormenta de tal forma que faz com que ele não saiba lidar com o sofrimento dos outros?



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